Acadêmicas: Ananda, Flora e Mônica
“o brincar é o espaço da criação cultural por excelência”
Brougère (1998)
“qualquer conduta pode-se transformar jogo, por meio da
“qualquer conduta pode-se transformar jogo, por meio da
equivalência metafórica, quando a intenção do jogador está
presente”
Kishimoto (1999:35)
Observar e participar de brincadeiras que evocam as nossas próprias memórias da infância permitem um olhar outro, imbuído de certa reflexão pautada em teorias de diversas correntes psicológicas daquilo que se tem conhecimento sobre a infância e o desenvolvimento da criança, ao mesmo tempo que nos proporciona a prazerosa experiência de entregar-se ao brincar e ao jogo, sem a preocupação de expôr-se ao ridículo.
Quem, ao brincar de “A galinha bota ovo” (um dos nomes conhecidos por nós, variante de “A Galinha Quer Pôr” ou, para alguns , “A Galinha Quepô”), nunca sentiu a vertigem ou aquele frio na barriga por não querer ficar de castigo no meio da roda? Quem, ao jogar a mesma brincadeira, nunca quis colocar o “ovo choco” exatamente atrás daquele coleguinha “chato”, ou do menino impertinente, ou do menino/a mais bonito/a da turma, só para vê-lo/a correndo atrás de si? E será que todas as crianças que brincam de “Ovo Choco” sabem exatamente o que isso significa, ou já vivenciaram a experiência de ver galinhas chocando ovos de verdade e de pintinhos nascendo?
Kishimoto (1999:35)
Observar e participar de brincadeiras que evocam as nossas próprias memórias da infância permitem um olhar outro, imbuído de certa reflexão pautada em teorias de diversas correntes psicológicas daquilo que se tem conhecimento sobre a infância e o desenvolvimento da criança, ao mesmo tempo que nos proporciona a prazerosa experiência de entregar-se ao brincar e ao jogo, sem a preocupação de expôr-se ao ridículo.
Quem, ao brincar de “A galinha bota ovo” (um dos nomes conhecidos por nós, variante de “A Galinha Quer Pôr” ou, para alguns , “A Galinha Quepô”), nunca sentiu a vertigem ou aquele frio na barriga por não querer ficar de castigo no meio da roda? Quem, ao jogar a mesma brincadeira, nunca quis colocar o “ovo choco” exatamente atrás daquele coleguinha “chato”, ou do menino impertinente, ou do menino/a mais bonito/a da turma, só para vê-lo/a correndo atrás de si? E será que todas as crianças que brincam de “Ovo Choco” sabem exatamente o que isso significa, ou já vivenciaram a experiência de ver galinhas chocando ovos de verdade e de pintinhos nascendo?
Segundo Leontièv (2001),
Já sabemos como o brinquedo aparece na criança em idade pré-escolar. Ele surge a partir de sua necessidade de agir não apenas em relação ao mundo dos objetos diretamente acessíveis à ela, mas também em relação ao mundo mais amplo dos adultos. Uma necessidade de agir como um adulto surge na criança, isto é, de agir da maneira que ela vê os outros agirem.
Portanto, refletir sobre a cultura lúdica da criança pressupõe um olhar sob novo prisma para com esta mesma cultura, não como um mundo à parte do nosso (adultizado, mais amplo), mas como algo que é intríseco ou inerente à essência do ser humano – sua capacidade de imaginar, de sonhar e de criar. Como na brincadeira citada, a situação imaginária de “botar o ovo” é, não somente a visão e a possibilidade de acesso à uma realidade externa à criança – mesmo para aquelas que nunca viram de verdade uma galinha botando ovo! – , mas a recriação do mundo real que ela já conhece e que tem acesso, além de simbolizar valores culturais e regras intrínsecas retransmitidas à elas de geração à geração. Brougère (1998), discorrendo sobre o jogo infantil, afirma:
O paradoxo é que o lugar de emergência e de enriquecimento da cultura é pensado fora de toda cultura como expressão por excelência da subjetividade livre de qualquer restrição, pois esta é ligada à realidade. (...) O brincar é uma dinâmica essencial do ser humano. (...) Cada cultura, em função de analogias que estabelece, vai construir uma esfera delimitada (de maneira mais vaga que precisa) aquilo que numa determinada cultura é designável como jogo. (...) Na realidade, há jogo quando a criança dispõe de significações, de esquemas em estruturas que ela constrói no contexto de interações sociais que lhe dão acesso a eles. Assim ela co-produz sua cultura lúdica, diversificada conforme os indivíduos, o sexo, a idade, o meio social.
Já sabemos como o brinquedo aparece na criança em idade pré-escolar. Ele surge a partir de sua necessidade de agir não apenas em relação ao mundo dos objetos diretamente acessíveis à ela, mas também em relação ao mundo mais amplo dos adultos. Uma necessidade de agir como um adulto surge na criança, isto é, de agir da maneira que ela vê os outros agirem.
Portanto, refletir sobre a cultura lúdica da criança pressupõe um olhar sob novo prisma para com esta mesma cultura, não como um mundo à parte do nosso (adultizado, mais amplo), mas como algo que é intríseco ou inerente à essência do ser humano – sua capacidade de imaginar, de sonhar e de criar. Como na brincadeira citada, a situação imaginária de “botar o ovo” é, não somente a visão e a possibilidade de acesso à uma realidade externa à criança – mesmo para aquelas que nunca viram de verdade uma galinha botando ovo! – , mas a recriação do mundo real que ela já conhece e que tem acesso, além de simbolizar valores culturais e regras intrínsecas retransmitidas à elas de geração à geração. Brougère (1998), discorrendo sobre o jogo infantil, afirma:
O paradoxo é que o lugar de emergência e de enriquecimento da cultura é pensado fora de toda cultura como expressão por excelência da subjetividade livre de qualquer restrição, pois esta é ligada à realidade. (...) O brincar é uma dinâmica essencial do ser humano. (...) Cada cultura, em função de analogias que estabelece, vai construir uma esfera delimitada (de maneira mais vaga que precisa) aquilo que numa determinada cultura é designável como jogo. (...) Na realidade, há jogo quando a criança dispõe de significações, de esquemas em estruturas que ela constrói no contexto de interações sociais que lhe dão acesso a eles. Assim ela co-produz sua cultura lúdica, diversificada conforme os indivíduos, o sexo, a idade, o meio social.
Efetivamente, de acordo com essas categorias, as experiências e as interações serão diferentes.
Na apresentação da brincadeira, houve, de início, uma rica discussão sobre os seus diversos nomes, letras cantadas e modos de se brincar. Isso reflete a diversidade sociocultural que há, mesmo dentro do nosso Estado, e essa se amplia se pensarmos enquanto país. Cada pessoa, de acordo com suas memórias de infância, apresentou uma versão diversa tanto da canção quanto do desenvolvimento da brincadeira em si. Trata-se, portanto, de uma brincadeira tradicional em si, já que é compartilhada por todas nós, mas que comporta também uma tradição para cada grupo de crianças (LEONTIEV, 2001), dependente do contexto em que a brincadeira foi aprendida, e, porque não, modificada e ressignificada pelas crianças.
Na apresentação da brincadeira, houve, de início, uma rica discussão sobre os seus diversos nomes, letras cantadas e modos de se brincar. Isso reflete a diversidade sociocultural que há, mesmo dentro do nosso Estado, e essa se amplia se pensarmos enquanto país. Cada pessoa, de acordo com suas memórias de infância, apresentou uma versão diversa tanto da canção quanto do desenvolvimento da brincadeira em si. Trata-se, portanto, de uma brincadeira tradicional em si, já que é compartilhada por todas nós, mas que comporta também uma tradição para cada grupo de crianças (LEONTIEV, 2001), dependente do contexto em que a brincadeira foi aprendida, e, porque não, modificada e ressignificada pelas crianças.
Tal diversidade fomentou o momento da nossa brincadeira e, antes mesmo de iniciá-la, algumas colegas expuseram a sua versão, a que costumava brincar na infância. Também nos leva a refletir que é possível explorar outras possibilidades de dinâmica: brincar um dia de uma versão e outro dia de outra desde que haja o interesse por parte dos alunos em repetí-la. Em relação à sequência didática, sugerimos apenas que a versão a ser brincada seja definida de forma bastante explícita no início, que as regras e a letra da cantiga sejam compartilhadas – uma vez que, no início da nossa brincadeira em sala, a cantiga era quase incompreensível, pois cada uma cantava do jeito como aprendera (afinal, é muito difícil aceitar que a nossa tradição não seja a forma “correta” de cantar, mexer com nosso repertório cultural).
A “Galinha Choca” traz um elemento fundamental para a Educação Infantil, que é o fato de explorar os sentidos: primeiro cantamos a música no individual e em seguida, no coletivo, todos cantam e também escutam, depois sentimos um movimento ou um som, o “ovo” nos é deixado e assim temos a percepção de que há algo próximo à nós. O fato de usar mais sentidos e não somente a visão é incorporado nessa brincadeira.
Assim, com este exemplo, podemos perceber que as culturas infantis não estão desconexas das suas particularidades culturais (dentro de cada região de um mesmo país ou sociedade), nem mesmo do seu contexto social mais amplo. Pode-se então considerar, também segundo Brougère (1998), que através do jogo a criança faz a experiência do processo cultural, da interação simbólica em toda a sua complexidade. Para ele, “a criatividade é a possibilidade de usar a linguagem para produzir enunciados pessoais, específicos, novos, e não a de repetir enunciados ouvidos ou aprendidos, seja qual for o valor intrínseco desses enunciados”(id.).
Há que se refletir a questão de não pedagogizarmos as brincadeiras e nem dar a elas um valor compensatório, mas valorizar o brincar pelo brincar, pelo simples prazer de estar ali naquele momento com colegas e juntos serem envolvidos naquele enredo. Essa é uma brincadeira que é protagonizada por cada um e que dá a todos a oportunidades de serem protagonistas no processo, sem exclusões – até mesmo a criança com alguma dificuldade motora, com a colaboração do grupo, consegue participar. Desta maneira, o sentido de grupo é valorizado, sem excluir a individualidade das crianças que vão criando por meio dela um enredo, uma imaginação, um faz-de-conta próprio e carregado de sentidos sobre o mundo.
Referências Bibliográficas:
BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. Revista da Faculdade de Educação, vol.24 n.2 São Paulo July/Dec. 1998.
LEONTIÈV, Alexis N. Princípios Psicológicos da Brincadeira Pré-Escolar. In: VIGOTSKI, L.S; LURIA, A.R & LEONTIÈV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.
KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Educação. São Paulo: Cortez, 1999.
Referências Bibliográficas:
BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. Revista da Faculdade de Educação, vol.24 n.2 São Paulo July/Dec. 1998.
LEONTIÈV, Alexis N. Princípios Psicológicos da Brincadeira Pré-Escolar. In: VIGOTSKI, L.S; LURIA, A.R & LEONTIÈV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.
KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Educação. São Paulo: Cortez, 1999.
3 comentários:
Concordo que esta é uma brincadeira que pode ser explorada em sua totalidade de possibilidades, mas precisa estar claro qual versão será usada no início da brincadeira. Foi bem interessante ver as diversas versões da “Galinha Choca” e constatar que a criança faz experiência e uso da cultura e que desde o nascimento, as crianças são mergulhadas num contexto social. Podemos dizer que no brincar, as crianças estão plenamente libertas para a criação. E é através da criatividade, que o indivíduo torna-se pleno e sincronizado com a vida, dando o valor a esta, percebendo suas potencialidades, além da importância das trocas inter-individuais.
Francieli Alves da Silva
Um ponto que me chamou atenção na crítica foi a questão de exploração dos sentidos, acredito que é necessário e muito benéfico trabalhar isso com as crianças, principalmente na educação infantil.
Na brincadeira da galinha choca há um espírito de grupo onde todas as crianças participarão de alguma forma, como as meninas falaram não há a exclusão de alguém e todos podem participar, sendo para mim um ponto muito positivo. Acho que essa brincadeira pode ser feita com crianças bem pequenas, porém com algumas modificações, conversas prévias, e muitas tentativas, pois na educação infantil repetir e tentar muitas vezes é imprescindível para avaliar resultados.
No mais acho que o imaginário infantil é muito estimulado nessa brincadeira onde há a questão da galinha, do ovo, da música e mais.. a criança desenvolve percepções e significados por meio da brincadeira..
"A ação numa situação imaginária ensina a criança a dirigir seu comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos ou pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo significado dessa situação." (Vigotsky, 2007, p. 114).
Gostaria de contribuir para o debate com três pontos citados na reflexão:
1. "E será que todas as crianças que brincam de 'Ovo Choco' sabem exatamente o que isso significa, ou já vivenciaram a experiência de ver galinhas chocando ovos de verdade e de pintinhos nascendo?"
Não sei se todas as crianças sabem o que significa uma galinha choca, mas acredito que se for necessário isso possa ser explicado de forma sutil. Uma boa sugestão é usar um livro que conte uma história e com isso permitir que a criança associe uma "coisa" à outra. Quando li o livro "A vida íntima de Laura" de Clarice Lispector me lembrei desta brincadeira. Para quem não conhece a história, fica a sugestão de leitura. O download do livro pode ser realizado em http://www.4shared.com/document/YDI5BMDL/Clarice_Lispector_-_A_Vida_nti.html?s=1
2. "Há que se refletir a questão de não pedagogizarmos as brincadeiras"
Essa foi uma questão muito importante trazida pela professora, reforçada nos comentários de Camila e Jéssica e ainda trazida aqui na reflexão. Isso não é, portanto uma tarefa fácil de ser realizada, ainda mais quando temos que apresentar uma proposta em sala, mas acredito sim na importância de repensarmos nossas atuações e de realmente valorizarmos o brincar por brincar, sem com isso fazer desmerecer a ação de brincar ou as reflexões sobre as brincadeiras.
3. "Essa é uma brincadeira que é protagonizada por cada um e que dá a todos a oportunidades de serem protagonistas no processo, sem exclusões"
Quando estava lendo a proposta e os comentários, lembrei-me que em minhas brincadeiras, caso a pessoa que colocou o ovo fosse pega ela não ia para o meio da roda, como em algumas versões, mas ela devia novamente procurar alguém para pôr o ovo. Sendo, portanto outra variável a ser pensada.
Parabéns a Vanessa pela apresentação do trabalho, que apesar das dificuldades conseguiu cumprir com mais esse desafio!
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