"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino" (Paulo Freire).
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Jogo, Interação e Linguagem

sábado, 29 de maio de 2010

Reflexão sobre a brincadeira "Acorda Senhor Urso"

Pudemos perceber no desenrolar da brincadeira “Acorda Senhor Urso”, um grande envolvimento da turma, onde todas participaram e mostraram interesse por estar brincando.
Essa brincadeira é uma releitura do pega-pega, uma brincadeira bastante simples e que não exige muitos materiais. Segundo Kishimoto:
Muitas brincadeiras preservam sua estrutura inicial, outras se modificam, recebendo novo conteúdo, porém enquanto manifestação livre e espontânea da cultura popular, a brincadeira tem a função de perpetuar a cultura infantil, de desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar. (KISHIMOTO, 1996, p. 38)

Na brincadeira “Acorda Senhor Urso” foi criando todo um cenário, personagens e funções que compõem um imaginário para o universo infantil, desenvolvendo questões como o movimento, a cooperação, agilidade, atenção, estratégias e interações. Apesar da simplicidade da brincadeira, acreditamos que foi positivo estipular as regras antes de começarmos a brincar, deixando claro que as mesmas podem variar conforme escolha e necessidade do grupo envolvido na brincadeira.
Gostaríamos de destacar o fato de haver uma rotatividade natural durante a brincadeira, os ursos pegam, os participantes correm, os ursos pegam enquanto salvamos e assim por diante. Não ficamos presas a uma situação apenas, tendo que criar estratégias para conseguirmos atingir nossos objetivos em todas as nossas ações, a atenção nunca cairá em uma pessoa apenas, dando liberdade às crianças para se soltarem e interagirem na brincadeira espontaneamente.
Como bem colocado pela dupla, a brincadeira não tem uma faixa etária definida, podendo ser desenvolvida com crianças da educação infantil e das séries iniciais, isso é bastante positivo para o professor que terá nessa brincadeira várias possibilidades para poder adaptar de acordo com as necessidades e objetivos que pretende desenvolver com a turma.
Entendemos que as brincadeiras são um meio para estimular as potencialidades presentes nas crianças, uma vez que é na brincadeira que a criança interage com o cotidiano, através dos vários papeis por ela assumidos, trabalhando assim suas emoções e ampliando seus conhecimentos infantis (RNCEI, 1998).
Segundo Vygotsky (1991), a brincadeira é uma forma de ação bastante importante para o convívio social e a atividade construtiva da criança, por isso a intervenção do professor na brincadeira deve ser de forma a ajudar as crianças a descobrirem o que está por trás do jogo.
Como sugestão fica a caracterização do “Sr. Urso” usando máscaras, babeiros, fitas amarradas no braço ou outras, tornando dessa maneira mais fácil para a criança identificar o urso pegador no momento da brincadeira.


Referência Bibliográfica

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
KISHIMOTO, TIZUKO. O Jogo e a Educação Infantil. In: KISHIMOTO, T. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação, 1996.
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de (org.). Educação infantil: muitos olhares. São Paulo:Cortez, 1994.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. O papel do brinquedo no desenvolvimento. IN: _____. A formação social da mente. São Paulo:Martins Fontes, 1991, pp. 105-118.

Por: Fernanda Silva e Regiane Espindola

2 comentários:

Maricota de Chita disse...

Acho bem engraçada (no sentido que os portugueses usam essa palavra, pra dizer que algo é interessante) a ideia de se vestir de urso. Acho que dá uma cor toda especial à brincadeira, assim como a ideia de construir uma toca (para a qual, como estudamos em Leontiev, a riqueza de material não se faz absolutamente necessária: talvez a cabana mais simples seja a mais rica para o desenvolvimento infantil, já que coloca a imaginação em ação). Trabalhando com crianças de 2 a 4 anos, eu brincava de lobo com elas, e corria dentro de uma roupa do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (quente que só ela). Era muito engraçado (de novo no sentido português) perceber como as crianças viviam certos conflitos na hora de delimitar exatamente onde terminava a fantasia e começava a realidade (certa vez, durante uma brincadeira de monstro, o "monstro", 3 anos, veio até mim chorando: "mas eu não sô um monstlo de vedade, né?"). Meu rosto me parecia ser o que os lembrava que eu era o lobo mas era a Flora. Nesse sentido, não podia usar a máscara, porque então me tornava assustadora demais.
Só um pequeno relato que achei que pode ajudar na forma de pensarmos a caracterização do urso, considerando as crianças com quem estamos trabalhando e seu olhar sobre a realidade - e sobre a fantasia.

Gabriela de Amorim disse...

A dupla traz a idéia de fazer uma caverna e como urso que fui durante a realização da proposta adorei a idéia que foi levantada no término da brincadeira de fazer mais de uma caverna, pois acredito que assim a brincadeira seria ainda mais instigante. A proposta a dupla apresenta que a fragilidade do reconhecimento da importância da brincadeira e o jogo ainda hoje e trazem que isso se dá especialmente de educação infantil. Acredito que essa fragilidade ocorra em toda a Educação e isso tem sido demonstrado durante nossa formação, quando sempre encontramos indícios do foco/centro em conteúdos e, sobretudo na escrita.

Enquanto discutíamos sobre a brincadeira, lembrei-me dos dois filmes do “Irmão Urso”... Mas quando começamos a discutir sobre o urso como ameaça, o que veio em minha mente foi o urso do filme “Os Sem Florestas”.

Juliane indicou o diferencial da fantasia nesta brincadeira que também foi trazido em outros comentários sob a imaginação. Sobre isso gostei da sugestão da Sandra sobre a produção da caverna com recicláveis e a indicaria a partir dos Anos Iniciais. Pessoalmente penso como de acordo com comentário da Flora, de que materiais simples podem ter uma riqueza enorme e pensando em Educação Infantil pensei em cavernas de TNT (Tecido não Tecido) ou mesmo lençóis com cadeiras ou amarrados em algo.

Posteriormente a Raquel traz a questão do parque e acho muito interessante essa indicação, pois no meu grupo de estágio as crianças se “soltam” neste espaço e isso favorecia outras práticas. Vivenciei na semana de observação um “passeio pela floresta” (brincadeira trazida no comentário da Aline), enquanto seu lobo não vinha... Mas quando ele chegava, a criançada se entregava e corria para todos os lados.

Foi interessante ser o urso na brincadeira realizada... Na verdade confesso que queria mesmo ser um polvo... Nosso grupo era grande e eu no meio da brincadeira já me via levando uma pessoa em cada mão para a caverna... por isso trago o exemplo do desejo pelo polvo, para representar o quanto eu desejava, cada vez mais, poder pegar mais e mais pessoas...

Além do personagem principal, reforçado por Fátima, e da caracterização deste (trazida em alguns comentários e na reflexão), pensei também na possibilidade de personagens secundários. Assim, se no nosso caso o principal era o urso, poderíamos questionar o grupo para saber atrás de quem ele corria e assim teríamos a possibilidade de caracterização de outros personagens e voltando conseqüentemente a questão da imaginação.

A reflexão acima nos aponta sobre a possibilidade de realização da brincadeira não só Educação Infantil, mas também nos Anos Iniciais. Mas se estamos vendo o quão é importante e prazeroso brincar, particularmente eu estenderia essa e tantas outras brincadeiras para os Anos Finais e Ensino Médio, afinal até nos no Ensino Superior adoramos brincar. Afirmo isso porque acredito na importância de levantarmos esse temática em grupos diferenciados e não só no campo da Pedagogia.

Para finalizar a citação da Flora acima sobre Fantasia x Realidade, acho que é uma questão muito interessante, pois a vivi com o grupo de estágio em Anos Iniciais. Neste estágio me caracterizei de Emília (esta da versão Globo) com maquiagem, roupa e peruca... As crianças que deveriam ter ente 8 e 10 anos ainda perguntavam: Mas é a Gabi, não é? Conversando sobre isso com a prof. orientadora do estágio, pudemos realmente ter sensibilidade sobre a importância de quando assumirmos um papel nos entregarmos a ele, de modo que as crianças também se entreguem, vivenciem e se questionem.

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