"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino" (Paulo Freire).
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Jogo, Interação e Linguagem

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Reflexão: "Salva Planeta."

Acadêmica: Vanessa Lúcia Coelho



A brincadeira apresentada proporcionou um momento de participação do grupo envolvido. Neste sentido, penso que é importante respeitar o contexto das crianças e suas singularidades para organizar a brincadeira. No nosso grupo brincamos de uma maneira (não podendo jogar o “planeta” para as colegas), porém sentimos a necessidade de alterar essa regra e foi o que aconteceu (agora podíamos jogar o “planeta” para as colegas).
Com as crianças essa situação acontece em diversos momentos, sobre isso destaco:


[...] Vygotsky (1991) também afirma que a brincadeira, mesmo sendo livre e não estruturada, possui regras. Para o autor todo tipo de brincadeira está embutido de regras, até mesmo o faz-de-conta possui regras que conduzem o comportamento das crianças. Uma criança que brinca de ser a mamãe com suas bonecas assume comportamentos e posturas pré-estabelecidas pelo seu conhecimento de figura materna. Para Vygotsky (1991) o brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois os processos de simbolização e de representação a levam ao pensamento abstrato (CORDAZZO, Scheila Tatiana Duarte; VIEIRA, Mauro Luís, 2007, p. 92).


Outro aspecto analisado, após a realização da brincadeira com o grupo, foi o espaço, que não era adequado para realizamos a brincadeira, pois éramos muitas participantes para um espaço pequeno e isso deve ser levado em consideração quando se pensa o brincar com as crianças. Durante a realização da proposta, estava perceptível que além da interação do grupo, a brincadeira proporcionou um momento de concentração, talvez devido a função de tentar alcançar “o planeta”, sem serem “congeladas” pelos adversários.
Trata-se de uma brincadeira de competição, mas apesar de tentarmos muitas vezes apresentar brincadeiras que não tenham esse foco competitivo, acreditamos que em alguns momentos naturalmente se percebe a competitividade ao brincar.


A cultura lúdica é antes de tudo um conjunto de procedimentos que permitem tornar o jogo possível. Com Bateson e Goffman consideramos efetivamente o jogo como uma atividade de segundo grau, isto é, uma atividade que supõe atribuir às significações de vida comum um outro sentido, o que remete a idéia de fazer-de-conta, de ruptura com as significações de vida cotidiana. Dispor de uma cultura lúdica é dispor de um certo número de referências que permitem interpretar como jogo atividades que poderiam não ser vistas como tais por outras pessoas (KISHIMOTO, 2002 p. 24).



Reportamo-nos a Kishimoto para repensar a questão da competição, afinal a brincadeira proposta traz a possibilidade de não ter apenas um ganhador ou perdedor, e isso contribui para o enriquecimento da cultura lúdica, até porque faz com que a proposta não seja cansativa para os que têm mais dificuldade para vencer e neste caso em específico nos faz refletir sobre as dificuldades dos que poderiam se achar incapazes, reforçando assim que o mais importante é o prazer de/em brincar.



Referências Bibliográficas:


CORDAZZO, Scheila Tatiana Duarte. VIEIRA, Mauro Luís. A brincadeira e suas implicações nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento. Estud. pesqui. psicol., jun. 2007, vol.7, no.1.. Disponível em: http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?pid=S1808-42812007000100009&script=sci_arttext&tlng=pt Acesso em: 22 maio de 2010.

KISHIMOTO, Tizuku Morchida. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. Disponível em:
http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=iK3UejO34YYC&oi=fnd&pg=PA7&dq=KISHIMOTO,+Tizuco.+O+Jogo+e+a+Educa%C3%A7%C3%A3o+Infantil.+In:+KISHIMOTO,+T.+Jogo,+brinquedo,+brincadeira+e+educa%C3%A7%C3%A3o.+1996.&ots=tdpyBc1NJ7&sig=4IviGT3isiS0-K_Nds04_aBLp5k#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 22 maio de 2010.

2 comentários:

Francieli Silva disse...

ADOREI A BRINCADEIRA E CONCORDO COM A VANESSA QUANDO DIZ QUE EM CERTO MOMENTO DA BRINCADEIRA HOUVE UMA CONCENTRAÇÃO PARA CONSEGUIR VENCER O ADVERSÁRIO. CONCORDO QUE DURANTE AS BRINCADEIRAS TEMOS DIFICULDADES DE ACEITAR AS QUE ENVOLVEM COMPETIÇÃO, MAS É CAPAZ DE ENRIQUECER A CULTURA LÚDICA E SER PRAZEROSA NO BRINCAR.
LEMBREI SOBRE O QUE KISHIMOTO (1999) DISSE A RESPEITO DA VARIEDADE DE FENÔMENOS QUE DIFICULTA A DEFINIÇÃO DE JOGO, MAS PARA O MESMO EXISTIR EXIGE HABILIDADE DOS JOGADORES, NECESSITA DE ESTRATÉGIAS, UM OBJETIVO ALCANÇADO, AÇÕES, PRAZER, COMPETIÇÃO E PARA HAVER UMA COMPETIÇÃO NECESSITA DE ADVERSÁRIO.

FRANCIELI ALVES DA SILVA

KISHIMOTO, TIZUKO. O Jogo e a Educação Infantil. In: KISHIMOTO, T. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação, 1996.

Gabriela de Amorim disse...

Já conhecia a proposta trazida pela dupla e já brinquei quando criança, quando adulta com crianças e agora adulta com um grupo de mulheres. Tenho muitas opiniões sobre esta brincadeira e sobre a proposta do grupo, mas vou colocar aqui no comentário algumas das questões principais que contribuam como diálogo com os comentários anteriores.
Primeiro gostaria de destacar que conforme temos debatido em sala, o item trazido pela dupla “o que será desenvolvido” vai muito além do que podemos imaginar sendo, portanto os itens destacados apenas alguns dos possíveis.
Destaco ainda importância da citação feita pela dupla de Leontiev (2001), pois através dele temos uma ótima questão de debate, os fins diferenciados no que se refere à participação de um grupo de adultos ou de crianças. Aproveito para trazer a angústia da Mônica em relação aos seus sentimentos sobre a brincadeira e cujo depoimento reafirma esta questão trazida por Leontiev. Gostaria de sugerir que Mônica participasse desta brincadeira com um grupo de crianças, pois certamente sua visão sobre a brincadeira poderá ser modificada.
O aspecto trazido pela Fernanda da flexibilidade na nomeação do objeto também é interessante, pois chegamos à questão da representação dos objetos, por “coisas” diferentes das que costuma ser, através da imaginação.
Observei esta brincadeira na Escola Desdobrada e NEI Costa da Lagoa, lá a brincadeira se chamava Salva Bandeira, mas o objeto utilizado também era uma bola. Trago uma parte da descrição feita em meu relatório de estágio: “Eles estavam brincando de Pique Bandeira, no pátio da escola [...] Observamos que na brincadeira as crianças priorizam “salvar” o companheiro e não a busca das bandeiras, representadas por bolas.” E tínhamos na proposta das crianças uma questão diferenciada da proposta da dupla, lá podia existir o guardião do objeto. Além disso, as crianças daquela escola tinham outras estratégias, como por exemplo, dar as mãos umas as outras, fazendo uma corrente e assim, evitando o congelamento e dificultando a tarefa do grupo de oposição.
Sobre a questão do Meio Ambiente trazida por Ingrid e questionada por Mônica, gostaria de deixar minha opinião, mas pensando em séries iniciais. Estudamos que quando se trata dos estudos sobre o Meio Ambiente temos sempre que recordar dos 3R`s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), neste sentido, temos que ter uma sensibilidade no sentido de não por “nas mãos das crianças” a “missão” de literalmente salvar o planeta, pois isso leva em consideração o papel da criança no futuro e sabemos o quanto é complexo esse debate sobre SER ou VIR A SER.
Mas saindo dessas questões tão polêmicas, Kamila traz outra importante questão, sobre o papel do professor como mediador das brincadeiras, sejam elas competitivas ou não.
Para finalizar gostaria de falar sobre a questão do espaço físico, pois algumas pessoas têm a opinião de que “o espaço pequeno dificultou o andamento da atividade”, mas acredito que somado a isso temos a questão da posição do nosso grupo diante da proposta, que também foi citada por Juliane, onde ora um grupo optava pelo ataque, ora pela defesa, e o fato de não existir em grande parte um envolvimento de cada grupo simultâneo com ataque e defesa isso sim pode ser, na minha opinião, um aspecto que tenha dificultado a execução da proposta da dupla.
Finalizo parabenizando a dupla pela proposta e pelo empenho diante dos “olhares adultos” diante da proposta ampla para crianças.

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